“Há crianças feridas escondidas atrás de adultos difíceis”
Você já ouviu essa frase? Eu a completaria com mais. Diria que há crianças, independente se feridas ou não, escondidas atrás de nós, adultos. Crianças que se sentiam muito sozinhas atrás de adultos muito ciumentos (e que, por essa razão ainda tem medo de ficar sozinho), crianças medrosas que se tornaram adultos, de alguma forma, dependentes, crianças que tiveram todos os desejos atendidos pelos cuidadores e que se tornaram adultos com dificuldades em respeitar os limites das outras, etc. Todas elas de alguma forma não deixam de ser crianças feridas (até mesmo essa, que teve tudo o que quis, pasme), e que, de alguma forma, aparecem ainda hoje em situações da nossa vida.
Oi pessoal, tudo bem? Hoje vamos conversar um pouquinho sobre a terapia do esquema – a linha que trabalho no consultório. Linha é a forma que cada psicólogo usa para ajudar melhor as pessoas/pacientes.
Eu trabalho com duas linhas, a TCC- terapia cognitivo comportamental, e a TE – terapia do esquema, e elas “conversam” bastante, até mesmo porque a terapia do esquema surgiu quando Jeffrey Young percebeu que a TCC não estava sendo tão eficaz para algumas pessoas; aliás, ela era eficaz, mas até certo ponto.
A TCC, ou terapia cognitivo comportamental diz (bem a grosso modo) que a forma como pensamos “comandam” os nossos sentimentos, nossa forma de agir e também a nossa reação física. Por exemplo, vamos imaginar que você tenha muito medo de baratas (assim como eu). Ao dar de encontro com um ser asqueroso desse, o que você faz? Sai gritando correndo? Pula? Paralisa? Joga objetos nela? Deixa a casa pra ela (risos)? Por que você acha que faz isso tudo? Aí você pode responder: porque tenho medo (sentimento) que ela voe, que ela suba em mim, voe no meu rosto, etc (pensamento). O “lance” da TCC está em analisar esses pensamentos, ver quão reais eles podem ser e, se forem reais, como podemos lidar com eles. Nesse caso da barata, quais as evidências que eu teria de que a barata vai “vir pra cima” de mim, e se vier, faríamos um treino para trabalhar a minha ansiedade/medo de que eu posso lidar com isso (e essa é a parte mais difícil, confesso), pelo nosso bem, claro, até mesmo porque dizem os googles que a barata é o único ser que pode sobreviver a uma bomba atômica, então, a gente que lute! Brincadeiras a parte, e de forma bem resumida, assim trabalhamos com a TCC, que está beeem longe dessa história chichê e nada saudável de “é só pensar positivo”, pois além de trabalharmos com evidências, tem resultados super positivos, não só com medos extremos, mas também com ansiedade, depressão, pânico, transtorno obsessivo compulsivo, etc. Eu gosto de trabalhar de forma leve (bem como escrevi aqui), mas sempre acolhendo os sentimentos do paciente, e é aí que entra a terapia do esquema!
Na TE, terapia do esquema, aprendemos que todos nós sentimos necessidades emocionais em diferentes fases da nossa vida, que deveriam ser atendidas para a formação de um adulto saudável, porém nem sempre isso é possível (aliás, é praticamente impossível), e é do não atendimento dessas necessidades que surgem os esquemas. Os esquemas são, resumidamente, um padrão de crenças, sensações, sentimentos, reações físicas que surgem na infância e que criamos para sobreviver e termos essas necessidades, de certa forma, satisfeitas.
Por exemplo: vamos imaginar uma criança de 2 anos que não queria ir para a escola. Seus pais conversaram com ela, explicaram que a buscariam depois, mas mesmo assim, “no auge dos seus 2 anos”, o que ela queria mesmo era ficar no aconchego do colinho da mamãe, e a sensação de ficar na escolinha, sozinha, era de ser deixada de lado, de abandono. Como uma criança de 2 anos, a criança chora, chama pela mãe, bate na professora e luta contra aquela sensação que não sabe o que é. Já na vida adulta, essa sensação de abandono persiste, mas de forma diferente. Ele (a) odeia ficar sozinho (a) e quando o parceiro (a) sai sozinho para viagens à trabalho, a sensação de abandono sufoca, e aquela criança de 2 anos “retorna” em forma de choro, ligações e mensagens constantes e um comportamento de certa forma, possessivo e controlador.
Na terapia do esquema somos pediatras de adultos, e além de oferecer acolhimento necessário ao adulto, oferecemos à essa criança que se sentiu abandonada o afeto e o colo que ela precisa. Posteriormente, esse adulto aprende também a reconhecer os seus esquemas, e estratégias mais saudáveis para lidar com eles.
Ao todo, temos 18 esquemas e é muito comum que as pessoas se assustem com a quantidade de esquemas que tem, e eu entendo! Não há motivo para pânico! Somos todos de carne e osso, e é normal ter esquemas, todos temos, e o mais importante é reconhecê-los, ser acolhida (o) e buscar estratégias mais saudáveis para lidar com eles (e eu que o diga, pois também tenho alguns bem dolorosos)! Faz sentido para vocês?!
Bem, essa é a terapia do esquema, meu amorzinho! Abaixo, estão fotos da minha “história com a terapia do esquema”! Espero que gostem!! Se tiverem alguma dúvida, fiquem a vontade para perguntar, afinal, esse espaço é nosso!!
Todas essas pessoas são referência na área para mim. Algumas tive o privilégio de ouvir e tirar uma foto, outras tenho a sorte de caminhar junto e dividir conhecimento e algumas eu ganhei, são meus presentes, e esses eu tenho a maior sorte do mundo e posso chamar de amigos (e obviamente tem muito amigo que não está aqui também)!